segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Regurgitofagia - Michel Melamed

Parte I
"Confirmado, eu morri! Estou aqui apenas para esclarecer que não há vida após a morte. A gente morre e fim. Acaba tudo geral. No exato segundo em que se morre, perde-se a consciência e... Portanto não existe alma, reencarnação, inferno nem reino dos céus. A pergunta óbvia então: como é possível, se não existe nada após a morte, que eu, morto, esteja aqui querendo confirmar a inexistência? Simples, eu estou escrevendo este texto antes de morrer. É um misto de insight com presságio. De resto é poder contar com um pouco de sorte e eu estou apostando todas as minhas fichas. Afinal, não havendo nada após a morte, não há o que ser descrito. Apenas esta confirmação, que tenho certeza, de onde eu estiver, uma vez mais assinarei embaixo. Gostaria de aproveitar a oportunidade e agradecer por ter vivido. Um beijo todo especial para o mundo inteiro, e sorte e coragem pra vocês. logo, quero dizer, nunca!"

Parte II
"Confirmado, eu morri! Estou aqui apenas para esclarecer que há vida após a morte. A gente morre e começo. Começa tudo geral. No exato segundo em que se morre, ganha-se a consciência e... Portanto existe alma, reencarnação, inferno e reino dos céus. A pergunta óbvia então: o que é que tem depois da vida? Complicado explicar. Porque eu estou escrevendo este texto antes de morrer. É um misto de insight com presságio. De resto é poder contar com um pouco de sorte e eu estou apostando todas as minhas fichas. Afinal, havendo vida após a morte, farei todo o possível para me manifestar e contar tintim por tintim. Por enquanto, apenas esta confirmação, que tenho certeza, de onde eu estiver, uma vez mais assinarei embaixo. Gostaria de aproveitar a oportunidade e agradecer por ter vivido. Um beijo todo especial para o mundo inteiro, e sorte e coragem pra vocês. logo, quero dizer, ei, você por aqui?!"

Após ler as duas partes, acometeu-me um certo pessimismo característico, que eu chamaria, em outra ocasião, de tendência sádica. Uma certa repulsa ao final alternativo de vida após a morte. Repulsa à esperança de uma explicação mais complicada, que me renderia outras páginas pra ler em breve, morrendo de sono, e tendo que trabalhar no dia seguinte. Mas ah, esperança... esperância, eu diria! Para mim, essa palavra tem a mesma sonoridade de outras como lambança, ou matança. E por que, esperança, não seria derivada de mais um sortudo verbo, vítima do agressivo vilão, Ança, o sufixo popular com um quê de petulante? Seria uma espera, pintada de tola: uma esperança. Enfim, vê-se que minha fé na consciência póstuma está de fato, regurgitando aqui, após repetir esperança tantas vezes.
Então, e você? Qual palavra você mudaria nos textos para seguir sua vida em frente, e morrer em paz? Prefere não ler nada, para ter certeza do fim? Ou... está morrendo?! Oh, um beijo todo especial, e escreva-nos.

4 comentários:

  1. Com certeza nos renderia boas horas de conversa!tipoo..Genial.mas uma vez sinto aquela vontade de ter tido a idéia primeiro.Não vou fazer grandes reflexões aqui pois prefir uma conversa ao vivo =D
    até amanhã,Xará

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  2. Esperança...quem espera sempre alcança, mas se nunca estica o braço na ânsia de esperar, como espera alcançar?
    Também exagerei na esperança, hein?! :)

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  3. Lendo o texto meio que de uma forma ou de outra eu senti uma tendência ao primeiro. Maldita filosofia Rosacruz. Cadê o final feliz?

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  4. Encontrei-me no primeiro, mas lendo o segundo, vestígios do cristianismo gritara dentro de mim. O texto é fenomenal, e coloca em discussão os nossos "eu's". Abrigado pela leitura.

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